sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Foi inevitável... Fui eu...




Eu, Morte


No chão frio busco vida
para então poder morrer,
pois vivendo de ilusões
em um mundo cego por cisões
- morte venha me buscar -
vale a pena
o Fim conhecer.

Todos morreremos.
Indo para o inferno das delícias,
indo para o inferno dos castigos
deixando a vida sangrando
- chorando, gritando -
por nos perder.
Jovens e velhos,
ricos e pobres,
de espírito, de fome,
- de justiça! -
não tendo escolha,
sem nada a fazer.

Morro aos poucos perplexo,
com saudade,
de um mundo destruído
pela natureza dos homens,
- que tristeza -
corrompida pela ganância,
pelo desejo,
que matou a tantos
e me faz morrer.

No mesmo chão,
tento a Imortalidade
- lembranças, passado -
arrastado
como um animal fugitivo,
sendo caçado, temido
- morte venha me buscar -
para então a história poder contar
que mais uma vítima fui,
do sistema de capital e exploração,
que ilude até a minha amada nação.


Como é difícil poder ser livre,
voar para escuridão,
com carmesim em meio ao corpo,
- nos lábios, em minhas mãos -
tendo como crime
a busca pela verdade, pela razão,
em um plano onde só existe injustiça
e corrupção,
com o meu Ser,
o seu Ser.
Temos que agir,
temos que fazer.
Abrir os olhos e ver.

Oh! Deus, por que se ausenta?
Me deixando padecer
sem recompensa,
de ao menos o Início reencontrar.
Ao menos responda
a tantos chamados,
da vida que ao meu lado
- ao seu lado -
tenta se recuperar,
para amanhã poder trabalhar
- e até se escravizar -

Não posso me acalmar,
permitir que o Eu gótico
seja mais uma noite perdido
- morte venha me buscar -
pelas aparências que nos cercam
- você está corrompido -
que mais uma vez querem ganhar,
minha alma, para o destino
em que tudo vai acabar,
sem retornar,
sem uma nova chance
de tentar.

A morte aproxima-se,
negra como a África
que sofre tanto preconceito
e é, e foi, tão explorada.
Negra como o petróleo
que aos poucos se acaba
dando chance a novos conflitos,
- preserve a água -
Negra como meu coração,
que por mais pobres
que sejam as rimas exprimidas,
não sabe o que é
o verdadeiro amor,
mas através de críticas poéticas
imprime no papel
o que eu realmente sou.
Eu, Morte.




Imagem:

Nature morte à l'antique
Criação: Francisco Boris

Uma pessoa especial...



Rosa e Negro

Morango podre? Não!
Talvez mais um mortal
triste em meio ao caos
de viver sem morte:
mate os preconceitos, os inimigos!
Você pode!
Viva para si em plenitude,
Sem exceção de atitudes.
Seja normalmente bela,
não será difícil, você é esperta.
Linda como a morte
que faz a vida florescer,
um tanto sem sorte,
pois poucos conseguem entender.
Apenas sorria.




Imagem:
Mulher com livro ( 1932 )
Criação: Pablo Picasso

Foi desejado... Por vezes é desejado...



Enterrem-me de preto


– Na noite escura,
chuvosa em uma rua
monstros em sintonia
despedaçam meu coração.

– Morro então,
feito um pobre cão
que viveu intensamente na solidão.

Morre então,
um filho amoroso
que de tanto carinho, tanto estima
não suportava mais viver.

Em sua casa avisam,
seus pais ficam depressivos
procurando uma forma de compreender.

A cidade mobilizada
surpreende-se, mas logo esquece
como se tudo, feito política tivesse
ocorrido por ocorrer.

– Aos amigos não há nada a dizer,
vícios compartilhados já não persistem,
apenas saudades tendem a enriquecer.

– Para o caminho da vida
aproximando-me estou,
deixando as mentiras caídas
como papéis pelo chão.





No quarto por sorte encontram,
seus pedidos de morte em um canto
como se tudo fosse para acontecer.

O garoto morto, de preto enterrado queria ser
sem tristeza ou alegria,
sem a ousadia de lágrimas sobre ele
derramar ao anoitecer.

Muitos ao funeral deslocavam-se
para ver o que policiais afirmavam ser
um rosto impossível de reconhecer.

Sua face, como seu coração, foi toda rasgada
servindo aos vermes como alimento,
no período que ficou suportando o sofrimento
de ninguém mais poder ver.

– Não se assustem com minha face
ou meus lábios deteriorados,
horrores melhores estão aprisionados.

A família inicia a despedida,
com o caixão parecendo flutuar
para o abismo dos imortais,
em que os sonhos jamais serão reais.

– Livre agora estou,
podendo na escuridão morar
com os amores que me restou.

(...)


Passam-se os dias
e sua mãe não consegue melhorar,
angustiada, tentando descobrir quem foi capaz
de seu filho poder roubar.

– Terei que para casa voltar
para a minha mãe informar
que a morte não é o que parece ser.

Retornando encontra a mãe desolada
e diz-lhe que os assassinos de sua criança tão amada
continuarão sempre a matar,
pois é difícil lutar contra quem tem a guerra a privar.

Sua mãe sonhando entendeu
e até seus últimos dias esperou,
mas seu filho jamais reencontrou.

Ao retornar, acabou por perder o caminho
e jamais a morte viva poder deliciar,
somente vagar pelos mundos
tentando morrer intensamente a gritar.

Não valorizou a vida oferecida pela morte
padecendo mais uma vez sem sorte
como um anjo que asas não pode ter.





Imagens ( respectivamente ):

La Persistencia del Pintor
Criação: Marti Carbonell
Técnica: Óleo sobre tela

Vida e morte
Criação: Gustav Klimt

Em um aniversário especial...



A Festa!


Dancem. Movam-se. Matem
a louca jaula que os cercam,
como cristais da coroa
de uma rainha um tanto louca.
– Faz sentido? –
Ao menos ela é livre.
Quebrem. Queimem. Matem-se!
A rainha quebrou o pé?
Não. É só uma gravata negra aos seus pés.
Dance! Morra!? Viva então.






Imagem:
Alegria de viver
Criação: Matisse