segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Infelizmente é verdade (pessoal)...




A Catedral



– Escute: são anjos gritando.
– Acalme-se: percebem você chorando.
Resta apenas espreguiçar-se afinal,
cuspindo sangue nos degraus da catedral.

– Respeite: ela nos salvará!
– Não: Cruzadas usou para matar.
Agora o máximo é retornar,
buscando novos escravos (fiéis!) para explorar.

– Pense: faça uma nova escolha.
– Por quê? dê-me uma. Proponha!
A máscara a tempos vem caindo,
como o chão daquele hotel antigo.
Apenas respire.

– Blasfemas: não rezarei por ti.
– Cristo: com meus pecados cresci.
Com a miséria tudo começa.
Estupro nos bancos da Igreja não apavora;
Inocentes são as mentes. Incinere-as agora!

– Escute: são demônios gritando.
– Acalme-se: percebem você sangrando.
Defenda-se dessa católica ignorância,
não inspire o enxofre de sua fragrância.


– Dizem: você é o mal.
– Digam: criticar é sexo mental. É bom!
Não vale o esforço esperar o Céu.
O certo é melhorar o Inferno cruel.

– Deus: você não é real...
– Eu: Platão que é surreal!
Com o cibório em meio as pernas, Padre?
Goze! Pra vocês isso é normal.
Apenas relaxe.



– Diabo: cadê o respeito?
– Espere: é reciproco.
Irmã, eu sei que sou bonitinho.
Quer pegar? Quer chupar? Quer sentir?
Apenas não grite.

– Abaixe: talvez você esteja certo.
– Sim: como as indulgências e a corrupção.
Pobre Jesus! Fez tanto e hoje é subjugado,
por um Papa de branco, cetro, sem camisinhas em mãos.

– Levante: realmente o melhor é questionar.
– Parabéns: comeu a razão.
Infelizmente, há muita decepção.
Não se assuste. Prepare seu coração.

– Rezarei: pedirei que a verdade apareça.
– Não sei não: talvez isso não aconteça.
Paciência! Um dia todos iremos cair.
Ou dormindo, ou gritando, ou esperando...
Alguém vai ligar e rir, rir, rir...

– Sim: temos que rir muito, muito!
– Exatamente: alguém virá nos buscar.
Da navalha até o rosário é um curto espaço.
Aqui estão os pregos! Cubra-me de gasolina.
Estamos condenados! Se precisar use um cadarço.

– Irmã, eu sei que sou bonitinho.
Quer pegar? Quer chupar? Quer sentir?
Goze! Goze! Ria! Ria! Apenas não grite.
Aliás, a piada pede um fim:
Alguém nos salve!
Alguém me salve!





Imagens ( respectivamente ):

A Catedral de Rouen
Criação: Claude Monet

Religiosa sem Igreja
Criação: Lena Gal / com poema de Rosa Leonor

No último instante...



O último dia



Em meu único coração distante
age um descontrole que insiste em viver
provocando uma dor pulsante
que me enaltece e me faz morrer.

Tal dor que engrandece e mata
é resultado de desejos reprimidos
que meu espírito guardou em uma casa
para se livrar dos cruéis sentidos.

Guardados, todos são violentados constantemente
por um mundo de horrendos sistemas
que tentam violar a casa – minha mente
para então o mal poder vencer.

Felizmente, tenho um último dia
em que de repente, do mais remoto suspiro,
quando novos desejos perseguia,
descobri uma forma de renascer.

O bem perdendo, meus antigos morrendo
para o mal por segundos viver
pois novos sonhos estão socorrendo
meu corpo que começa a falecer.




(...)

Quase podre, por muito pouco não vivi
no mundo dos vivos de sangue,
porque com toda razão persisti
para poder retornar ao globo cortante.

Os sentidos ainda insistem,
como uma chama ardente infinita,
mas meu distante possui um item
capaz de combater a vã imprimida.



(...)

Mesmo assim, parece não haver fim,
como uma disputa sagaz
em que é impossível dizer um sim
para buscar a tão sonhada paz.

Em um último dia, como meu coração
ainda e sempre age a insatisfação,
aflição da empobrecida razão.
Quando será que acabarão?

No more! O never more!





Imagens ( respectivamente ):

Skull and Cadlestick
Criação: Paul Cézanne

Jardim das delícias terrenas
Criação: Bosch

Um dia nesta cidade...



A cidade Maria




Vrum! Vrum! Vrum!
Itsit! Itsit! Rápido.
Tisti! Tisti! Parado.
Quer morrer garoto, atropelado?

Quanta velocidade pelas ruas
de um centro de zumbis em uma lamúria
que caminham aprisionados em armaduras,
quando não acorrentados em amargura.

Brem! Brem! Brem!
Sinos tocando sem ritmo,
Uiu! Uiu! Uiu!
Como a ambulância e o seu apito; cadê o fuzil?

Perde-se a chave, mas não o calor
que a multidão sem dor, além daquele frade
dão-me ao olhar com pudor.

Vrum! Vrum! Vrum!
Quer morrer sim garoto, atropelado como um porco.
– Sim! Mas como um cão,
de colarinho branco, charuto e quinhão,
estripado na face da população.

Venha! Mergulhe na ilusão,
como 10 centavos em minha mão,
livre! Vive! Brem!





Imagem:
Nos Confins da Cidade Muda (Homenagem a Man Ray) (1984)
Criação: Jorge Guinle Filho
Técnica: óleo sobre tela
190,5 x 260 cm

Na escola...



O momento



Quanta tristeza, quanto desespero
tanta irracionalidade, tanta ilusão.
Palavras não faladas, imaginadas,
que perturbam-me, caídas pelo chão.



Rodeado por sentimentos e emoções:
dor, raiva, amor, compaixão.
Como é difícil sentir, permitir, tamanha sensação.



Problemas, doenças, contradições
que inseridas no coração, dissimulam tantas ações.
Morte que persiste a cada instante,
vivendo confusa, pulsante.



Como é difícil viver e morrer intensamente
conduzindo meu ser, minha mente,
para uma condição, mais uma vez deprimente.







Imagens ( respectivamente ):
Quadro Amarelo (2005)

Quadro Azul (2005)

Quadro Cinza
(2005)

Criação: Antonio Netto

Técnica: Acrílica sobre tela