terça-feira, 30 de setembro de 2008

Ocorreu... Terminou...



Dois em...




Saia da minha cabeça, saia da minha cabeça.
Saia da minha cabeça, saia da minha cabeça.
Saia de meu corpo, saia de minha mente.
Mas os elos são tão fortes, fortes, fortes...
E eu sou tão fraco, fraco, fraco...
- Você é fraco! Não merece nesse corpo permanecer.
Sem mim, viveria em um tecer
de ilusões sem coragem, de pensamentos vazios.
Mas comigo o seu real prevalece:
Vamos brincar. Sem temor!
Vamos jogar. Provocando rancor!
Vamos beijar. Ainda que seja morrendo.
Seu corpo é meu. Sempre será meu.
Seus cortes são meus. Sangue que derrama ao entardecer.
- Quem é você?
- Quem sou eu? Sou você. Apenas você!
Crânios quebrados com tiros laterais,
vento que vem, vento que vai...
Aceite! Aceite! Aceite! Aceitamos.
Mais um vermelho horizontal não fará mal.




Imagem:
Relatividade
Criação: M.C. Escher

Lamento...



Enquanto dia... Enquanto noite...




De dia. De noite.
Resisto. Desmorono.
Gostaria de me libertar, mas não posso dizer que não amo.
Luz. Escuridão.
Não quero mais sentir
que você partiu,
mais uma vez sem mim.

De dia. De noite.
É tarde demais, quero esquecer
todas as noites em que chorei
por seus barulhos, por seus insultos
que não me deixavam adormecer.

As fotos ainda estão penduradas nas paredes.
Agora que você se foi,
sonho que sente saudade
dos momentos bons, dos momentos ruins
que passamos juntos e você os matou.
As fotos ainda estão penduradas nas paredes.

Entra e sai de meus pensamentos,
ainda nos conhecemos.
Que bom que me encontrou
nas florestas escuras,
em meio às árvores silenciosas
no amanhecer de uma mente insegura.
Obrigado, realmente!

Meu coração ainda é um pouco inocente,
deveria ter dito quando não estava bem
às vezes não gostava de você.
Foi tanta insegurança:
vai ficar? Vai fugir? Vai me abraçar?
Vai fugir... Belo fim!

Não fiz o suficiente,
não demonstrei o suficiente,
(de dia. De noite.)
mas sobreviverei.
Está tudo acabado e irei esquecer.




Imagem:
Um Dia de Noite... Uma Noite de Dia (2001)
Técnica: Óleo sobre tela
37 x 54 cm
Criação: Gustavo Saba

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Infelizmente é verdade (pessoal)...




A Catedral



– Escute: são anjos gritando.
– Acalme-se: percebem você chorando.
Resta apenas espreguiçar-se afinal,
cuspindo sangue nos degraus da catedral.

– Respeite: ela nos salvará!
– Não: Cruzadas usou para matar.
Agora o máximo é retornar,
buscando novos escravos (fiéis!) para explorar.

– Pense: faça uma nova escolha.
– Por quê? dê-me uma. Proponha!
A máscara a tempos vem caindo,
como o chão daquele hotel antigo.
Apenas respire.

– Blasfemas: não rezarei por ti.
– Cristo: com meus pecados cresci.
Com a miséria tudo começa.
Estupro nos bancos da Igreja não apavora;
Inocentes são as mentes. Incinere-as agora!

– Escute: são demônios gritando.
– Acalme-se: percebem você sangrando.
Defenda-se dessa católica ignorância,
não inspire o enxofre de sua fragrância.


– Dizem: você é o mal.
– Digam: criticar é sexo mental. É bom!
Não vale o esforço esperar o Céu.
O certo é melhorar o Inferno cruel.

– Deus: você não é real...
– Eu: Platão que é surreal!
Com o cibório em meio as pernas, Padre?
Goze! Pra vocês isso é normal.
Apenas relaxe.



– Diabo: cadê o respeito?
– Espere: é reciproco.
Irmã, eu sei que sou bonitinho.
Quer pegar? Quer chupar? Quer sentir?
Apenas não grite.

– Abaixe: talvez você esteja certo.
– Sim: como as indulgências e a corrupção.
Pobre Jesus! Fez tanto e hoje é subjugado,
por um Papa de branco, cetro, sem camisinhas em mãos.

– Levante: realmente o melhor é questionar.
– Parabéns: comeu a razão.
Infelizmente, há muita decepção.
Não se assuste. Prepare seu coração.

– Rezarei: pedirei que a verdade apareça.
– Não sei não: talvez isso não aconteça.
Paciência! Um dia todos iremos cair.
Ou dormindo, ou gritando, ou esperando...
Alguém vai ligar e rir, rir, rir...

– Sim: temos que rir muito, muito!
– Exatamente: alguém virá nos buscar.
Da navalha até o rosário é um curto espaço.
Aqui estão os pregos! Cubra-me de gasolina.
Estamos condenados! Se precisar use um cadarço.

– Irmã, eu sei que sou bonitinho.
Quer pegar? Quer chupar? Quer sentir?
Goze! Goze! Ria! Ria! Apenas não grite.
Aliás, a piada pede um fim:
Alguém nos salve!
Alguém me salve!





Imagens ( respectivamente ):

A Catedral de Rouen
Criação: Claude Monet

Religiosa sem Igreja
Criação: Lena Gal / com poema de Rosa Leonor

No último instante...



O último dia



Em meu único coração distante
age um descontrole que insiste em viver
provocando uma dor pulsante
que me enaltece e me faz morrer.

Tal dor que engrandece e mata
é resultado de desejos reprimidos
que meu espírito guardou em uma casa
para se livrar dos cruéis sentidos.

Guardados, todos são violentados constantemente
por um mundo de horrendos sistemas
que tentam violar a casa – minha mente
para então o mal poder vencer.

Felizmente, tenho um último dia
em que de repente, do mais remoto suspiro,
quando novos desejos perseguia,
descobri uma forma de renascer.

O bem perdendo, meus antigos morrendo
para o mal por segundos viver
pois novos sonhos estão socorrendo
meu corpo que começa a falecer.




(...)

Quase podre, por muito pouco não vivi
no mundo dos vivos de sangue,
porque com toda razão persisti
para poder retornar ao globo cortante.

Os sentidos ainda insistem,
como uma chama ardente infinita,
mas meu distante possui um item
capaz de combater a vã imprimida.



(...)

Mesmo assim, parece não haver fim,
como uma disputa sagaz
em que é impossível dizer um sim
para buscar a tão sonhada paz.

Em um último dia, como meu coração
ainda e sempre age a insatisfação,
aflição da empobrecida razão.
Quando será que acabarão?

No more! O never more!





Imagens ( respectivamente ):

Skull and Cadlestick
Criação: Paul Cézanne

Jardim das delícias terrenas
Criação: Bosch

Um dia nesta cidade...



A cidade Maria




Vrum! Vrum! Vrum!
Itsit! Itsit! Rápido.
Tisti! Tisti! Parado.
Quer morrer garoto, atropelado?

Quanta velocidade pelas ruas
de um centro de zumbis em uma lamúria
que caminham aprisionados em armaduras,
quando não acorrentados em amargura.

Brem! Brem! Brem!
Sinos tocando sem ritmo,
Uiu! Uiu! Uiu!
Como a ambulância e o seu apito; cadê o fuzil?

Perde-se a chave, mas não o calor
que a multidão sem dor, além daquele frade
dão-me ao olhar com pudor.

Vrum! Vrum! Vrum!
Quer morrer sim garoto, atropelado como um porco.
– Sim! Mas como um cão,
de colarinho branco, charuto e quinhão,
estripado na face da população.

Venha! Mergulhe na ilusão,
como 10 centavos em minha mão,
livre! Vive! Brem!





Imagem:
Nos Confins da Cidade Muda (Homenagem a Man Ray) (1984)
Criação: Jorge Guinle Filho
Técnica: óleo sobre tela
190,5 x 260 cm

Na escola...



O momento



Quanta tristeza, quanto desespero
tanta irracionalidade, tanta ilusão.
Palavras não faladas, imaginadas,
que perturbam-me, caídas pelo chão.



Rodeado por sentimentos e emoções:
dor, raiva, amor, compaixão.
Como é difícil sentir, permitir, tamanha sensação.



Problemas, doenças, contradições
que inseridas no coração, dissimulam tantas ações.
Morte que persiste a cada instante,
vivendo confusa, pulsante.



Como é difícil viver e morrer intensamente
conduzindo meu ser, minha mente,
para uma condição, mais uma vez deprimente.







Imagens ( respectivamente ):
Quadro Amarelo (2005)

Quadro Azul (2005)

Quadro Cinza
(2005)

Criação: Antonio Netto

Técnica: Acrílica sobre tela

domingo, 28 de setembro de 2008

Ela persiste...



A invejosa


Enche nossos corações
de sentimentos obscuros,
de ilusões.
Não importando a quem
- tanto faz! -
aos amigos que tem.
Mas sim, a beleza
que finge ter
para viver
assim... com inveja, com tristeza.

E essa inveja
que destrói a tantos,
faz ela viver
- Eliza, não tenha espanto -
com promessas
que quando cumpridas,
algum dia,
neste dia,
vão desmoronar.

- Com inveja sim,
mas tristeza não;
deixe-me gastar
todos os meus sapatos de dança,
com meu vestido maldito - darling
o cabelo horrível.
Da miséria não estão livres,
estão todos perdidos!

Com seus olhos
vazios e manchados, fixados,
procuram absorver
nossos sonhos
no contorno da mente,
com mentiras
- não acredite, é tudo hipocrisia -

- Mas ninguém se importa,
com o que estou passando.
Brilho labial nas minhas veias injetando,
para o Paraíso alcançar,
pois absorver sonhos sem brilho
enlouquecida vou ficar.




Seus olhos mais uma vez beberam demais,
consumindo a loucura sagaz.
Suas mãos geladas dilaceram nosso coração,
com memórias que rasgam nossa carne
com dores, amores – que se renovarão.

- Me dê todas as pílulas.
Me dê todos os corações sem esperança,
fazendo-me doente como um anjo
que ao inferno cai para a vida. Para a dança.

Pelo desejo de Morte
toca nossos lábios com o beijo negro
matando com seu veneno, nosso coração traiçoeiro.

Sob o céu quebrado da cidade, persiste.
Matando como Diabo – ele, ela, aos poucos resiste.





Imagens ( respectivamente ):

Jaqueline
Criação: Picasso

Las Meninas
Criação: Picasso

Ela existe...



Olhos cravados



Na esquina suja,
com sapatos furados,
com cabelos desgrenhados.
Não entendia.

Na avenida conturbada,
de semblante triste,
vestes, trapos, sem grife.
Não entendia.

Na cidade pequena,
mulher de idade suprema,
sem amor, sem aroma de flor.
Não entendia.

No Estado de tradição,
falta-lhe cultura, razão,
não tem atenção, não tem opinião.
Não entendia.


No país da diversidade,
quantas dificuldades,
quanto menosprezo à sociedade.
Não entendia.

No mundo racional,
como há irracionalidade,
capitalismo, guerra, maldade.
Não entendia.

Olhos cravados, mãos calejadas.
Tanto esforço, tanto trabalho.
Vale ter fé, vale esperar.
Um dia tudo pode mudar.





Imagem:
Mulher Cão
Criação: Paulo Rego

oP... Op... oP...



Primeiras opções


Tire a maquiagem programada,
por seus pais, por sua sociedade capitalizada.
Tire sua luva rasgada,
pela bela ilusão da manhã estudada.
Tire seu sapato furado,
pelo som da aula adulterado.
Tire seu senso de razão pensado,
pois é perigoso. Eles o pegarão, será doloroso!

Coloque o coração humano,
forjado por um Deus inescrupuloso.
Coloque o cérebro racional,
não esquecendo o sentimento nacional.
Coloque em suas veias sangue frio,
gélido como o Destino na margem do rio.
Coloque então vida injetada,
para poder ser livre. Voar em meio ao nada!

Voe, voe, voe...
Sem pressa de um dia retornar
pois no mundo que estará,
o tempo não vive, nem ao menos resiste.
Somente a morte existe
destruindo-o aos poucos
– realmente! –
com odores, com sabores
que mostram-lhe a verdade
em meio as ninfas da realidade,
para enfim poder optar.

Tire o que quer! Coloque o que quer!
Viaje para todo o Sempre,
ou retorne, se puder.
Inúmeras escolhas que tendem a brotar
em cada Ter – basta Ser!
É só um início, ou será um fim?
Está livre para a prisão ou preso na liberdade
– na decepção? –

Ventos sopram, chuva cai
como vida perdida por tiros
que nas ruas sempre se desfaz.
– Cápsulas não há mais!? –
A solução é a dor escolher,
para poder entender
o que busco promover:
Opções.




Imagem:
La Pretre Marie ( 1961 )
Criação: René Magritte

Somos...



Um poeta



Ser imaginoso.

Que de sua tristeza gelada
faz brotar sonhos, verdades discriminadas.

Que de sua calorosa alma
recria a realidade,
buscando encontrar a felicidade.

Feliz é a palavra
que de sua mente sai,
procurando no papel um amor
que com o carbono se refaz,
atuando nos corações dos demais.

Que de sonhos silenciosos vive.
De criações surgidas persiste.
Como o Caos,
tudo pode destruir,
tudo pode construir,
desde rimas ricas
- o que é riqueza afinal? -
até livres ilusões vivas.

Vivendo com suas longas palavras perdidas,
seus sussurros lentos,
sem saber o que o mantém aqui.
Seria porque o mundo
não quer levar seu coração,
mente, inspiração, expiração,
deixando-o com seus sonhos
dizimados pela Razão,
a verdade dos homens,
Deuses da destruição?
Vivendo com medo da decepção,
gritando ruidosamente
por atenção, por perdão.

Atento ao som
das mais raras jóias
- as idéias -
companhias perfeitas
de sua existência periférica
que como o inferno
está em todo lugar:
na cama, no altar
em você
- por que não se acostumar? -
Atento ao caminho
que percorre constantemente
procurando não se afogar
em meio a tanta gente
que diferentemente,
implora pelas poças de sangue
dos mais nobres seres,
Simples e Carentes
que apenas querem viver
- ou ao menos tentar -
com dignidade freqüentemente.



No fim do mundo tenta alcançar
uma verdade desconhecida
que por meio de poemas
tenta expressar,
escritos ou falados
- o que importa, é eficaz! -
para seu leitor,
ouvinte ou redator,
que palavras
segredos podem revelar,
caindo a máscara da beleza fingida,
a mentira da Democracia vivida.
Poemas e palavras que caminham
em meio a sua alma
como pensamentos
que impulsionados pelo terror
- há pressa; não há calma -
querem morrer
e sonhar como os mortos,
com a vida que um dia
poderão ter
para enfim poder ocorrer
a perfeição que poucos tentam entender.
Próximo do fim
tenta retornar,
vale a pena? É possível tentar?
87 minutos tentando criar.
87 versos querendo formar.
87 palavras na escrita a chorar.
87 demônios tentando arruinar,
o que se pode chamar
de um poeta capaz
de dor e amor
perfectível tornar.






Imagens ( respectivamente ):

Ilustração de um poema
65 X 50 cm

Whirlpool of lovers (Illustration to Dante's Inferno)
Criação: William Blake

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Foi inevitável... Fui eu...




Eu, Morte


No chão frio busco vida
para então poder morrer,
pois vivendo de ilusões
em um mundo cego por cisões
- morte venha me buscar -
vale a pena
o Fim conhecer.

Todos morreremos.
Indo para o inferno das delícias,
indo para o inferno dos castigos
deixando a vida sangrando
- chorando, gritando -
por nos perder.
Jovens e velhos,
ricos e pobres,
de espírito, de fome,
- de justiça! -
não tendo escolha,
sem nada a fazer.

Morro aos poucos perplexo,
com saudade,
de um mundo destruído
pela natureza dos homens,
- que tristeza -
corrompida pela ganância,
pelo desejo,
que matou a tantos
e me faz morrer.

No mesmo chão,
tento a Imortalidade
- lembranças, passado -
arrastado
como um animal fugitivo,
sendo caçado, temido
- morte venha me buscar -
para então a história poder contar
que mais uma vítima fui,
do sistema de capital e exploração,
que ilude até a minha amada nação.


Como é difícil poder ser livre,
voar para escuridão,
com carmesim em meio ao corpo,
- nos lábios, em minhas mãos -
tendo como crime
a busca pela verdade, pela razão,
em um plano onde só existe injustiça
e corrupção,
com o meu Ser,
o seu Ser.
Temos que agir,
temos que fazer.
Abrir os olhos e ver.

Oh! Deus, por que se ausenta?
Me deixando padecer
sem recompensa,
de ao menos o Início reencontrar.
Ao menos responda
a tantos chamados,
da vida que ao meu lado
- ao seu lado -
tenta se recuperar,
para amanhã poder trabalhar
- e até se escravizar -

Não posso me acalmar,
permitir que o Eu gótico
seja mais uma noite perdido
- morte venha me buscar -
pelas aparências que nos cercam
- você está corrompido -
que mais uma vez querem ganhar,
minha alma, para o destino
em que tudo vai acabar,
sem retornar,
sem uma nova chance
de tentar.

A morte aproxima-se,
negra como a África
que sofre tanto preconceito
e é, e foi, tão explorada.
Negra como o petróleo
que aos poucos se acaba
dando chance a novos conflitos,
- preserve a água -
Negra como meu coração,
que por mais pobres
que sejam as rimas exprimidas,
não sabe o que é
o verdadeiro amor,
mas através de críticas poéticas
imprime no papel
o que eu realmente sou.
Eu, Morte.




Imagem:

Nature morte à l'antique
Criação: Francisco Boris

Uma pessoa especial...



Rosa e Negro

Morango podre? Não!
Talvez mais um mortal
triste em meio ao caos
de viver sem morte:
mate os preconceitos, os inimigos!
Você pode!
Viva para si em plenitude,
Sem exceção de atitudes.
Seja normalmente bela,
não será difícil, você é esperta.
Linda como a morte
que faz a vida florescer,
um tanto sem sorte,
pois poucos conseguem entender.
Apenas sorria.




Imagem:
Mulher com livro ( 1932 )
Criação: Pablo Picasso

Foi desejado... Por vezes é desejado...



Enterrem-me de preto


– Na noite escura,
chuvosa em uma rua
monstros em sintonia
despedaçam meu coração.

– Morro então,
feito um pobre cão
que viveu intensamente na solidão.

Morre então,
um filho amoroso
que de tanto carinho, tanto estima
não suportava mais viver.

Em sua casa avisam,
seus pais ficam depressivos
procurando uma forma de compreender.

A cidade mobilizada
surpreende-se, mas logo esquece
como se tudo, feito política tivesse
ocorrido por ocorrer.

– Aos amigos não há nada a dizer,
vícios compartilhados já não persistem,
apenas saudades tendem a enriquecer.

– Para o caminho da vida
aproximando-me estou,
deixando as mentiras caídas
como papéis pelo chão.





No quarto por sorte encontram,
seus pedidos de morte em um canto
como se tudo fosse para acontecer.

O garoto morto, de preto enterrado queria ser
sem tristeza ou alegria,
sem a ousadia de lágrimas sobre ele
derramar ao anoitecer.

Muitos ao funeral deslocavam-se
para ver o que policiais afirmavam ser
um rosto impossível de reconhecer.

Sua face, como seu coração, foi toda rasgada
servindo aos vermes como alimento,
no período que ficou suportando o sofrimento
de ninguém mais poder ver.

– Não se assustem com minha face
ou meus lábios deteriorados,
horrores melhores estão aprisionados.

A família inicia a despedida,
com o caixão parecendo flutuar
para o abismo dos imortais,
em que os sonhos jamais serão reais.

– Livre agora estou,
podendo na escuridão morar
com os amores que me restou.

(...)


Passam-se os dias
e sua mãe não consegue melhorar,
angustiada, tentando descobrir quem foi capaz
de seu filho poder roubar.

– Terei que para casa voltar
para a minha mãe informar
que a morte não é o que parece ser.

Retornando encontra a mãe desolada
e diz-lhe que os assassinos de sua criança tão amada
continuarão sempre a matar,
pois é difícil lutar contra quem tem a guerra a privar.

Sua mãe sonhando entendeu
e até seus últimos dias esperou,
mas seu filho jamais reencontrou.

Ao retornar, acabou por perder o caminho
e jamais a morte viva poder deliciar,
somente vagar pelos mundos
tentando morrer intensamente a gritar.

Não valorizou a vida oferecida pela morte
padecendo mais uma vez sem sorte
como um anjo que asas não pode ter.





Imagens ( respectivamente ):

La Persistencia del Pintor
Criação: Marti Carbonell
Técnica: Óleo sobre tela

Vida e morte
Criação: Gustav Klimt

Em um aniversário especial...



A Festa!


Dancem. Movam-se. Matem
a louca jaula que os cercam,
como cristais da coroa
de uma rainha um tanto louca.
– Faz sentido? –
Ao menos ela é livre.
Quebrem. Queimem. Matem-se!
A rainha quebrou o pé?
Não. É só uma gravata negra aos seus pés.
Dance! Morra!? Viva então.






Imagem:
Alegria de viver
Criação: Matisse

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Eu... Você... Em um ...



Estou...


Triste...
Pois por maior que seja minha vontade de chorar,
meus olhos não derramam sequer uma lágrima.

Desesperado...
Porque tamanha vontade de gritar,
cala-se em meio aos meus lábios encarcerados.

Sozinho...
Por mais que esteja rodeado de amigos,
sinto como se estivesse em um abismo profundo.

Com ódio...
De todos aqueles injustos e corruptos
que me fazem viver em uma eterna ilusão.

Frio...
Não consigo amar quem me deu a “vida”!
Como posso viver?

Confuso...
Quantos elogios, quantos beijos, quanto carinho.
Não sou merecedor, ninguém é!





Com medo...
Anjos afugentam-se com minha presença.
Mil sombras parecem chamar-me, venerar-me.

Sonhando...





Imagem:
Medo
Criação: Clarice Lispector
Técnica: Óleo sobre tela

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Em um momento somos...



O moço


Sentado, parece esperar por um chamado
que durante muito tempo tem esperado
para a vida poder romper.

Drogas, aos instantes tem exalado
pessoas aos montes maltratado
mas nada, nada, parece resolver.

Desesperado, da ponte pensa em atirar-se
cortar os pulsos em meio à cidade,
entretanto, ninguém iria perceber.


A família matar? A namorada afogar?
E a saudade, como iria suportar?
Em mais um dia, de ilusões alimentado fica a pensar:
– Morte, resolva meu problema
em um mundo cheio de problemas, dilemas
eu não suporto mais viver.

Finalmente, em mais um dia fúnebre
a morte trabalhou, despertou
e o moço, calado, muito cansado
em meio ao ar evaporou.

E mais um retornou.






Imagem:
O moço tímido
Criação: Inos Corrandin
Técnica: Óleo sobre tela
Tamanho: 70 x 50 cm

Alguém não muito distante...


Inocente


De corpo frágil e juvenil,
parece encantar quem está ao seu redor.
Com seu hálito doce e agradável,
seduz o mais puro dos seres.

De face viva e delicada,
merece a mais pura das molduras.
Com seus lábios macios,
proporciona o mais saboroso dos beijos.

De olhos penetrantes e misteriosos,
observa o infinito das almas.
Com suas mãos lindas de gestos sutis,
dança pelos corpos apaixonados.

De silêncio inocente, atraente,
torna-se vivo entre dois.
Vivo... Inocente...






Imagem:
INOCÊNCIA
Técnica: Óleo sobre tela
Criação: Cão Yong
Tamanho: 60 x 80 cm

Depende de cada um...



O sonho do povo



Sonho vem, sonho vem
da mente do povo
na noite dormida
de um dia cansado.

Será que já nasceu,
ou estará já morrendo?
O sonho que o povo
ama tanto.

Sonho vem, sonho vem
com ilusão e verdade
da nossa triste realidade
de um dia mudar.

Que sonho
vive enjaulado
nesse povo tão desanimado?


Será o fim da corrupção,
com igualdade, liberdade, fraternidade
iluminando pessoas,
pessoas para a felicidade,
feliz justiça que abre os olhos
para seus filhos,
grande divindade!

Sonho vem, sonho vem
acordando mais uma vez
com esperança de realizar
talvez o sonho pensado, idealizado.

Esperar,
vamos nos acomodar
é só sonho.

Não
– isso é sonhar acordado –
esperando do nada o improvável.
Começar é mudar,
sonho de realizar
para um dia melhorar.

Sonho, sonho... de um povo.






Imagem:
O Sonho, de Picasso.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Será? Pensar?



Aglomerado




Seres ricos em pobreza,
impacientes com tamanha injustiça,
que causa tanta tristeza,
nas favelas bastardas da nobreza.
Oh! Deus, por que tanta diferença?
Num universo de infinita beleza,
onde poucos compreendem a sabedoria suprema,
pois no aglomerado da ignorância
falta inteligência, clareza...
da República Monárquica brasileira.


Quanta fartura de doenças e pragas,
de vícios, drogas, pessoas maltratadas
por uma sociedade tão igualitária!
Quanta ironia sem classe,
De um povo que vive na mentira, na “lavagem”.


Que realidade! São tantas incertezas.
Uns no aglomerado da miséria, da riqueza,
outros da ignorância, da esperteza.
Não de uma única nação, de várias
transmissoras de tantos males, que prepotência!
Oh! Deus, por que tanta diferença?
Cadê nossa sociedade, nossa fortaleza!
Fazemos parte dela, quanta incompetência,
manipulação mal feita, pelo bem de poucos,
aglomerando-nos aos poucos, com certeza.






Imagem:
Morro da Favela — 1924
óleo/tela 64 X 76cm
Assin:"Tarsila 1924"
Col. João Estéfano, SP

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Passou...



A lua vermelha




Em meio ao céu escuro,
está lá uma lua vermelha,
que com sua esplêndida beleza
destaca-se em meio aos demais.

Com sua exótica aparência,
aquece o coração dos enamorados,
das virgens, os rostos expressados,
faz aquecer com a paixão.

Para o perverso, o inimigo,
faz padecer com o castigo,
iluminado, tão transpassado
pela luz do seu luar.

Será o fim? É diferente.
Uma lua, uma noite, tão envolvente
em um recíproco olhar
parece tudo acabar.

Com o fim, tudo pode reiniciar.

domingo, 21 de setembro de 2008

Ainda...



Hoje Índio


Sobre a origem viva e pura
retornam mais uma vez incrédulos,
famintos de compreensão,
sujos e mascarados pela história.
Em meio a balaios e palha e grama e terra...
Sujeitos ao esquecimento, preconceito...
Destinados ao que puder, tiver, receber...



De faces tristemente clamando por liberdade
de viver, de sorrir, de “ser”.
Criando sonhos de presenciar, interagir
num mundo de criar, melhorar.

Sobre si próprios retornam mais uma vez
famintos de esperança...
Famintos hoje.









Imagem:
A visão do cacique.
Técnica: Guache sobre papel.
Tamanho: 50cm x 45cm.