domingo, 28 de setembro de 2008

Ela persiste...



A invejosa


Enche nossos corações
de sentimentos obscuros,
de ilusões.
Não importando a quem
- tanto faz! -
aos amigos que tem.
Mas sim, a beleza
que finge ter
para viver
assim... com inveja, com tristeza.

E essa inveja
que destrói a tantos,
faz ela viver
- Eliza, não tenha espanto -
com promessas
que quando cumpridas,
algum dia,
neste dia,
vão desmoronar.

- Com inveja sim,
mas tristeza não;
deixe-me gastar
todos os meus sapatos de dança,
com meu vestido maldito - darling
o cabelo horrível.
Da miséria não estão livres,
estão todos perdidos!

Com seus olhos
vazios e manchados, fixados,
procuram absorver
nossos sonhos
no contorno da mente,
com mentiras
- não acredite, é tudo hipocrisia -

- Mas ninguém se importa,
com o que estou passando.
Brilho labial nas minhas veias injetando,
para o Paraíso alcançar,
pois absorver sonhos sem brilho
enlouquecida vou ficar.




Seus olhos mais uma vez beberam demais,
consumindo a loucura sagaz.
Suas mãos geladas dilaceram nosso coração,
com memórias que rasgam nossa carne
com dores, amores – que se renovarão.

- Me dê todas as pílulas.
Me dê todos os corações sem esperança,
fazendo-me doente como um anjo
que ao inferno cai para a vida. Para a dança.

Pelo desejo de Morte
toca nossos lábios com o beijo negro
matando com seu veneno, nosso coração traiçoeiro.

Sob o céu quebrado da cidade, persiste.
Matando como Diabo – ele, ela, aos poucos resiste.





Imagens ( respectivamente ):

Jaqueline
Criação: Picasso

Las Meninas
Criação: Picasso

Ela existe...



Olhos cravados



Na esquina suja,
com sapatos furados,
com cabelos desgrenhados.
Não entendia.

Na avenida conturbada,
de semblante triste,
vestes, trapos, sem grife.
Não entendia.

Na cidade pequena,
mulher de idade suprema,
sem amor, sem aroma de flor.
Não entendia.

No Estado de tradição,
falta-lhe cultura, razão,
não tem atenção, não tem opinião.
Não entendia.


No país da diversidade,
quantas dificuldades,
quanto menosprezo à sociedade.
Não entendia.

No mundo racional,
como há irracionalidade,
capitalismo, guerra, maldade.
Não entendia.

Olhos cravados, mãos calejadas.
Tanto esforço, tanto trabalho.
Vale ter fé, vale esperar.
Um dia tudo pode mudar.





Imagem:
Mulher Cão
Criação: Paulo Rego

oP... Op... oP...



Primeiras opções


Tire a maquiagem programada,
por seus pais, por sua sociedade capitalizada.
Tire sua luva rasgada,
pela bela ilusão da manhã estudada.
Tire seu sapato furado,
pelo som da aula adulterado.
Tire seu senso de razão pensado,
pois é perigoso. Eles o pegarão, será doloroso!

Coloque o coração humano,
forjado por um Deus inescrupuloso.
Coloque o cérebro racional,
não esquecendo o sentimento nacional.
Coloque em suas veias sangue frio,
gélido como o Destino na margem do rio.
Coloque então vida injetada,
para poder ser livre. Voar em meio ao nada!

Voe, voe, voe...
Sem pressa de um dia retornar
pois no mundo que estará,
o tempo não vive, nem ao menos resiste.
Somente a morte existe
destruindo-o aos poucos
– realmente! –
com odores, com sabores
que mostram-lhe a verdade
em meio as ninfas da realidade,
para enfim poder optar.

Tire o que quer! Coloque o que quer!
Viaje para todo o Sempre,
ou retorne, se puder.
Inúmeras escolhas que tendem a brotar
em cada Ter – basta Ser!
É só um início, ou será um fim?
Está livre para a prisão ou preso na liberdade
– na decepção? –

Ventos sopram, chuva cai
como vida perdida por tiros
que nas ruas sempre se desfaz.
– Cápsulas não há mais!? –
A solução é a dor escolher,
para poder entender
o que busco promover:
Opções.




Imagem:
La Pretre Marie ( 1961 )
Criação: René Magritte

Somos...



Um poeta



Ser imaginoso.

Que de sua tristeza gelada
faz brotar sonhos, verdades discriminadas.

Que de sua calorosa alma
recria a realidade,
buscando encontrar a felicidade.

Feliz é a palavra
que de sua mente sai,
procurando no papel um amor
que com o carbono se refaz,
atuando nos corações dos demais.

Que de sonhos silenciosos vive.
De criações surgidas persiste.
Como o Caos,
tudo pode destruir,
tudo pode construir,
desde rimas ricas
- o que é riqueza afinal? -
até livres ilusões vivas.

Vivendo com suas longas palavras perdidas,
seus sussurros lentos,
sem saber o que o mantém aqui.
Seria porque o mundo
não quer levar seu coração,
mente, inspiração, expiração,
deixando-o com seus sonhos
dizimados pela Razão,
a verdade dos homens,
Deuses da destruição?
Vivendo com medo da decepção,
gritando ruidosamente
por atenção, por perdão.

Atento ao som
das mais raras jóias
- as idéias -
companhias perfeitas
de sua existência periférica
que como o inferno
está em todo lugar:
na cama, no altar
em você
- por que não se acostumar? -
Atento ao caminho
que percorre constantemente
procurando não se afogar
em meio a tanta gente
que diferentemente,
implora pelas poças de sangue
dos mais nobres seres,
Simples e Carentes
que apenas querem viver
- ou ao menos tentar -
com dignidade freqüentemente.



No fim do mundo tenta alcançar
uma verdade desconhecida
que por meio de poemas
tenta expressar,
escritos ou falados
- o que importa, é eficaz! -
para seu leitor,
ouvinte ou redator,
que palavras
segredos podem revelar,
caindo a máscara da beleza fingida,
a mentira da Democracia vivida.
Poemas e palavras que caminham
em meio a sua alma
como pensamentos
que impulsionados pelo terror
- há pressa; não há calma -
querem morrer
e sonhar como os mortos,
com a vida que um dia
poderão ter
para enfim poder ocorrer
a perfeição que poucos tentam entender.
Próximo do fim
tenta retornar,
vale a pena? É possível tentar?
87 minutos tentando criar.
87 versos querendo formar.
87 palavras na escrita a chorar.
87 demônios tentando arruinar,
o que se pode chamar
de um poeta capaz
de dor e amor
perfectível tornar.






Imagens ( respectivamente ):

Ilustração de um poema
65 X 50 cm

Whirlpool of lovers (Illustration to Dante's Inferno)
Criação: William Blake